quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Entranhas.

O punhal dançou livremente naquele lindo corpo... lembro-me basicamente disso. Comecei a almejar aquele paraíso em que via na ponta de uma lâmina semi- afiada, um pouco enferrujada que eu tinha há um tempo atrás. Ele tinha um magnetismo em que eu não podia ignorar. Lutei e relutei, até achei que eu estivesse ficando sabe... louco. Mas chegou um dia em que não resisti. Finalmente vi o paraíso. Peguei-o e expus aquela carne de pele macia com toda a podridão que continha. Assim, seus pequenos ecos abraçaram a escuridão daquele quarto vazio, e o meu profundo carinho. A dor que vibrou aos tons de bordô já não era tão aterrorizante para mim e para aquele corpo que deixei. Imóvel. Ao contrário, a última feição foi de uma estranha euforia. Em mim. Finalmente entrei no paraíso. E eu... eu sabia! O que a torturava foi o seu próprio intelecto, o vazio da sua existência, os incessantes porquês. Eu só a ajudei, a protegi, dei um basta. Como eu sempre fiz. E eu via que não existia mais devolução, somente a aceitação. O permanente que falhou em coagular. Com isso, aprendi que viver é doloroso e a morte é tranquila, mas somente sua transição que pode ser um pouco... problemática. "Minhas entranhas não serão mais expostas para esses zombeteiros espectadores", dizia em uma de suas despedidas frustradas. E eu a compreendi, já que eu saí delas.