quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Faces e Espelhos.

Vidas e ilusões. Pessoas e máscaras. Faces e espelhos. Saúde e doença. Razão e vontade. Carne e alma. Raso e profundo. Angústia e dor. Nada é tão puro quanto parece, nada é tão real quanto te descrevem. O que crias é o reflexo da sua mente. O que cultivas é o reflexo do seu espírito.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Cólera.

Se mexem os demônios viventes, tão apertados dentro da caixa, tão isolados do resto do veneno. Siga seus instintos, ignore o que está vindo. O relógio estático. O tempo? Imparável. Chama crescente, transe iminente, sacrifício da carne, libertação do espírito. Borbulhando, a inquietação toma forma... e tudo, logo, se transforma. Avante negrejante, roube novamente aquilo que um dia já te pertenceu! Adoeça o que circula em minhas veias.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Azul.

E pintaremos as telas da vivência de um tom trágico, com toda a leveza da tinta da incerteza. Admirando o rei tempo e sua longevidade, tão distante aos olhos da nossa verdade, que acabamos por pensar que somos os exilados da aclamada corte. Brindando aos fracassos, exterminando qualquer traço de aconchego. Gostamos é do ócio! Da ira! Do sentimento em sua forma mais incômoda e genuína. Da beleza do azul, do gosto do cru, das expressões mais borradas, das mentes atormentadas. Comporemos um retrato do interior onde nada mais viveu, somente, por pouco tempo, sobreviveu. Transferir os reflexos, dentre esboços e gritos no vazio. Expor o caos permanente. Por fim, carregar o destino que agradava anteriormente. Enfim, apreciando. Mergulhando. Afogando. Retornando. E a tela continua em branco.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sangria (2° Versão).

De que adianta ter boca quando não se pode falar? E ouvir e não discernir. No infortúnio do marasmo. De que adianta? Se esforçar se vamos morrer de novo, e de novo, e de novo, como sempre acontece?! E borrar mais e mais um futuro incerto com essa certa sina de perdedor. Pra quê? Viver sem aprender, e se prender nas amarras! Para olhar seu passado e desprezá-lo por não ter feito o que a mente, diariamente, te acusa. Não acredito... como pude entender só agora?! Que os que vêem de fora acham tudo fácil, tão raso. E que cada pensamento espremido, cada gota da seiva, não passaram de meras palavras. Que a carne está envelhecendo, e a alma... pobre alma... enlouquecendo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sobras.

Viva, enquanto a vida esvai em suas mãos. Se distraia com alegrias que maquiam os sentimentos. Cria fantasias para esconder sua real natureza. Porque eles... estão à espreita. Plante flores em seu jardim do agora enquanto vê as do ontem putrefatas. Saúde aos tempos de glória, às asas momentâneas e se prepare para quebrar todos os seus ossos na queda quando elas forem cortadas. Dance, beba, ame, e odeie tudo o que fez. A cada segundo se encha e fique insatisfeito, ache a luz e permaneça na escuridão. Ele vai mudar, eles vão lhe observar. Se afogando nas confortantes ondas do vazio, na esperança e no conformismo, e eles não dirão uma palavra. Você indo... vindo e dando voltas em torno do seu pobre mundo, e eles não dirão uma palavra. Você se embebedando de seu próprio eu, e eles não dirão uma palavra. Você, tão distraído, forjando sua própria forca, e eles gargalharão.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Pétalas.

Uma a uma... despedaça. Retirando cada camada. Expondo seu interior. Lentamente, sem pudor. Crescente, estridente. O terror está à porta e as paredes, rachadas e fracas. Elas já não te protegem, na verdade, nunca protegeram. Fecha teus olhos, na esperança de que não verás o que você mesma forjou. Tapa teus ouvidos, não querendo escutar as vozes que vivem dentro ti. Bloqueia teus pensamentos, tente esquecer o pesadelo do qual estranhamente tem apego... porque no fim, você sabe, sobrarão apenas cinzas. Ou mais nada.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Dor De Crescimento.

Mal sabia, coitada. E quem haveria de lhe avisar? Já que a hóspede que não teve hora pra chegar, tivesse uma estadia tão duradoura. E quem haveria de saber, que de repente a dor não fosse mais de seus ossos, mas de algo não orgânico, insistente, desobediente, era algo que nem ela conseguiria entender. Coitadinha... tão novinha, e a hóspede, tão dura. Deixou algumas marcas que tentou esconder, mas sangravam tanto que logo suas feridas fizeram questão de sujar suas vestimentas. E a garotinha chorava, esperando que seus contos de fada viessem à tona para lhe confortar com palavras brandas. Chorou até cessarem suas forças. Mas era tarde demais. Tardou a perceber que a hóspede veio para lhe corromper, mas não de uma maneira ruim, afinal, percebeu que já era tempo de crescer. "Ora! Todos crescemos um dia, afinal!". Ela já não tinha mais nada a perder, mesmo que seus olhos, ainda úmidos e inchados, dissessem o contrário. Então uma garoa fina, constante, aguda caiu sobre a garotinha, que, pela primeira vez tocou sua pele. Chuva que se misturou às gotas vermelhas de vida, tão intensas como bordô. Chuva que depois daquele instante, algo a dizia, que jamais cessaria. E a dor... continuou. Como quem nunca parou de crescer. Dor que com o passar do tempo, entorpeceu, acalentou, e a fez sentir como na primeira vez. Dor que num tom trágico de beleza, a fez florescer, mesmo que com toda terra seca que a cercava.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ciclo.

Um dia a gente evapora. Simplesmente. Exatamente como algo que quebrado, não tem utilidade. Exatamente como água que já serviu pra hidratar, mas agora precisa terminar o seu ciclo. É normal, não somos eternos. Ao contrário, somos descartáveis. Vulneráveis e passíveis, padecendo dentro de nossa própria carne. Pode chamar de pessimismo, tudo bem, não há mal nisso... mas não há nada que possa fazer com algo que é inevitável. A outra parede está lá, o outro lado, e não fazemos ideia do que nos espera além daquela porta. Apenas sabemos que existimos, porque espiamos pelas frestas. Enfim, um dia, a gente evapora. Um dia, meu querido, viramos história... pelo menos isso, não é?!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Pó.

Atrofiando, cada vez mais... Mergulhando, muito longe do cais... Secando, tudo aquilo que já jorrou... Silenciando, tudo o que um dia já gritou... Matando, tudo o que já respirou. Definhado, seco. Finalmente, por inteiro, se rachou.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Saiba. (Memórias E Palavras Quase Afogadas).

Saiba que eu me importei. Saiba que eu queria arrancar essa dor e trazê-la para mim, mesmo se os cacos fossem tão minúsculos à ponto de me fazerem sangrar. Eu não ligava para o que acontecesse a mim, afinal, você quem era a prioridade. Talvez esse pôde ter sido o meu erro, mas confesso que tinha prazer em me doar. Eu só queria ser mais do que eu conseguia ser, ir além do meu alcance. Te puxar de volta desse vazio que você se atirou, lhe fazendo assim, retornar a moradia das nuvens, a paz que sempre almejou (e que eu não pude proporcionar). Mesmo com todos os obstáculos, esse brilho que te faz reluzir mais que prata nunca se perdeu, por mais que não admitisse. Você foi sempre o mesmo, e eu... hum... muito volúvel. Acabei enfiando os pés pelas mãos, caí, mas mesmo assim não consegui te alcançar. Eu sabia, você sempre foi inalcançável. Longe demais de minhas manias e medos infantis. Um espírito independente nato, e eu... bem, uma eterna cativa de meus monstros interiores, teimando em acreditar em fatos impossíveis. E me faça somente esse último favor antes do fim de tudo. Não permita que essa chama acesa se converta em solitárias cinzas brancas, porque elas se vão com a leve brisa. Seja como o fogo, que o vento espalha e o alimenta, fique forte e arda intensamente. Seja o que eu não fui capaz de ser. Quero que saiba que eu me esforcei enquanto tive forças para fazê-lo, agora, me tornei prisioneira demais de meu próprio eu. Desculpe por não poder lutar mais. E isso basta.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Entranhas.

O punhal dançou livremente naquele lindo corpo... lembro-me basicamente disso. Comecei a almejar aquele paraíso em que via na ponta de uma lâmina semi- afiada, um pouco enferrujada que eu tinha há um tempo atrás. Ele tinha um magnetismo em que eu não podia ignorar. Lutei e relutei, até achei que eu estivesse ficando sabe... louco. Mas chegou um dia em que não resisti. Finalmente vi o paraíso. Peguei-o e expus aquela carne de pele macia com toda a podridão que continha. Assim, seus pequenos ecos abraçaram a escuridão daquele quarto vazio, e o meu profundo carinho. A dor que vibrou aos tons de bordô já não era tão aterrorizante para mim e para aquele corpo que deixei. Imóvel. Ao contrário, a última feição foi de uma estranha euforia. Em mim. Finalmente entrei no paraíso. E eu... eu sabia! O que a torturava foi o seu próprio intelecto, o vazio da sua existência, os incessantes porquês. Eu só a ajudei, a protegi, dei um basta. Como eu sempre fiz. E eu via que não existia mais devolução, somente a aceitação. O permanente que falhou em coagular. Com isso, aprendi que viver é doloroso e a morte é tranquila, mas somente sua transição que pode ser um pouco... problemática. "Minhas entranhas não serão mais expostas para esses zombeteiros espectadores", dizia em uma de suas despedidas frustradas. E eu a compreendi, já que eu saí delas.