quinta-feira, 18 de junho de 2015

Dor De Crescimento.

Mal sabia, coitada. E quem haveria de lhe avisar? Já que a hóspede que não teve hora pra chegar, tivesse uma estadia tão duradoura. E quem haveria de saber, que de repente a dor não fosse mais de seus ossos, mas de algo não orgânico, insistente, desobediente, era algo que nem ela conseguiria entender. Coitadinha... tão novinha, e a hóspede, tão dura. Deixou algumas marcas que tentou esconder, mas sangravam tanto que logo suas feridas fizeram questão de sujar suas vestimentas. E a garotinha chorava, esperando que seus contos de fada viessem à tona para lhe confortar com palavras brandas. Chorou até cessarem suas forças. Mas era tarde demais. Tardou a perceber que a hóspede veio para lhe corromper, mas não de uma maneira ruim, afinal, percebeu que já era tempo de crescer. "Ora! Todos crescemos um dia, afinal!". Ela já não tinha mais nada a perder, mesmo que seus olhos, ainda úmidos e inchados, dissessem o contrário. Então uma garoa fina, constante, aguda caiu sobre a garotinha, que, pela primeira vez tocou sua pele. Chuva que se misturou às gotas vermelhas de vida, tão intensas como bordô. Chuva que depois daquele instante, algo a dizia, que jamais cessaria. E a dor... continuou. Como quem nunca parou de crescer. Dor que com o passar do tempo, entorpeceu, acalentou, e a fez sentir como na primeira vez. Dor que num tom trágico de beleza, a fez florescer, mesmo que com toda terra seca que a cercava.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ciclo.

Um dia a gente evapora. Simplesmente. Exatamente como algo que quebrado, não tem utilidade. Exatamente como água que já serviu pra hidratar, mas agora precisa terminar o seu ciclo. É normal, não somos eternos. Ao contrário, somos descartáveis. Vulneráveis e passíveis, padecendo dentro de nossa própria carne. Pode chamar de pessimismo, tudo bem, não há mal nisso... mas não há nada que possa fazer com algo que é inevitável. A outra parede está lá, o outro lado, e não fazemos ideia do que nos espera além daquela porta. Apenas sabemos que existimos, porque espiamos pelas frestas. Enfim, um dia, a gente evapora. Um dia, meu querido, viramos história... pelo menos isso, não é?!