sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Chuva Rubra

Vermelho. Como todo o ódio que sinto. Borbulhando. Fervendo em minhas veias, derretendo minha pele. Queimando. Com todas as palavras e pensamentos gastos em vão. Eu tentei. Não ceder, tentei ser como o que esperavam de mim, mas essa não é a minha natureza! E eu não esperava que isso acontecesse. Farta. De tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. De tantas cores ao mesmo tempo explodindo em minha face! Eu só quero o vermelho. Quero banhar-me no sangue das virgens. Quero embebedar-me no líquido vital dos guerreiros degolados. Quero viver do medo e desespero. Do câncer, da raiva, dos gritos, da loucura e ranger de dentes. Alimentada dos tons de rubro dos mais vivos aos mais frios. E que essa chuva caia sobre mim, me afogando na dor profunda entre ossos e entranhas. Eu não quero mais estar exausta tentando ser aquilo que não consigo. Tentando sentir coisas que realmente não sinto. E tudo o que sobrou é isso. Eu sou dele. E também sou dela.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Quebrada.

Você vai acabar com a minha dor? Você vai tirar a minha vida? Você vai me fazer sangrar? Você vai me pendurar para secar? Você vai tomar a minha alma na chuva da meia-noite? Enquanto eu estou caindo aos pedaços... enquanto eu estou enlouquecendo? Você pode quebrar meus ossos? Você vai rasgar minha pele? Você pode provar minha luxúria? Você pode sentir o meu pecado? Veja, eu sou um desperdício de vida. Eu deveria apenas me matar. Sim, eu poderia cortar os pulsos mas isso realmente não ajudaria. Não iria resolver meus problemas ou mudar sua mente, porque eu quebrei seu coração e você enterrou o meu. Agora estou a 7 palmos abaixo da terra e eu não consigo respirar. Eu tenho sujeira em meus olhos e sangue nas minhas mangas. Mas eu cavo para a saída, através destas raízes e folhas para conseguir um pouco de ar. Para poder finalmente respirar. E agora eu estou de joelhos, implorando "Por favor!". Adeus. Não sinta a minha falta quando eu partir. Adeus! Porque você é a porra do motivo de eu não estar mais aqui.

terça-feira, 29 de março de 2016

Pilares Fragmentados.

Obscuro... parado, calmo como as reconfortantes ondas do vazio. Enfim retornei, nadando, afundando para casa. Lar dos gritos incessantes, finalmente pude enlouquecer com eles em um Pandemônio que se alastrava como o negrejante que infectara ao Aéreo Confortante. Em plena Dor de Crescimento, percebi que não pude ser mais do que me permitiria ser. Eles me controlavam, e mediante exímia perfeição, eu não pude suportar por muito tempo. De que adianta? Ecrevendo aquela Carta saberia que quem veria seriam apenas os seres que me atormentam. Sufoquei até minhas Entranhas se contorcerem, o tormento era tamanho que cedi aos desejos deles. E que tola fui... em minha inocência e despreparo, reclamava dos monstros que criei sem saber que podia conviver com eles, ou comigo. Aquele Peito Carregado, aqueles Pés Inquietos não foram o suficientes para fugir do furor da alma. Tudo instantaneamente virou raiva, tudo rapidamente desceu pelo ralo. Um mero desabafo se transformou num mar de lágrimas, que se tornou um oceano de Sanha, Desalento e Clichê dando voltas incontáveis em torno de algo que nunca existiu. Eu. Naquele dia não houve mais barreiras, não houve mais mundo, não houve mais limites, nem asas, nem nada. Sem alternativas, bebi do seu veneno, ao qual até outrora experimentava apenas leves doses. Embriaguei-me da podridão que em cativeiro cultivei... e na Sangria, a carne, o espírito e todas as feridas dilacerei. Por fim, cedi.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Carta.

Buracos em seu coração... pequenos, sangrando. É só o começo da história. Nada que possa evitar a tragédia. Estamos fadados a isso, lembra-se? Ao incerto que nunca nos levará ao caminho de volta. Então por que não se inebria com sua tristeza? Afinal é só o que lhe resta... assim como a mim. Ouça os sons te chamando para aquele canto escuro do quarto. Vá para o berço, para a calmaria que somente ela pode te proporcionar. Enquanto eu? Eu já evaporei. Já não posso contribuir porque não tenho mais nada em mãos, a não ser palavras vãs. Estou atada, fraca pelos tombos, impotente pelas feridas. Talvez dentro de todo esse caos um fragmento de luz possa surgir. Mas não para mim. Faça sua escolha, siga o seu caminho, fuja enquanto é tempo ou entregue-se por completo. Não me convide para dançar novamente porque desaprendi todos os passos. Porém saiba... ainda me importo, e sempre me importei.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Faces e Espelhos.

Vidas e ilusões. Pessoas e máscaras. Faces e espelhos. Saúde e doença. Razão e vontade. Carne e alma. Raso e profundo. Angústia e dor. Nada é tão puro quanto parece, nada é tão real quanto te descrevem. O que crias é o reflexo da sua mente. O que cultivas é o reflexo do seu espírito.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Cólera.

Se mexem os demônios viventes, tão apertados dentro da caixa, tão isolados do resto do veneno. Siga seus instintos, ignore o que está vindo. O relógio estático. O tempo? Imparável. Chama crescente, transe iminente, sacrifício da carne, libertação do espírito. Borbulhando, a inquietação toma forma... e tudo, logo, se transforma. Avante negrejante, roube novamente aquilo que um dia já te pertenceu! Adoeça o que circula em minhas veias.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Azul.

E pintaremos as telas da vivência de um tom trágico, com toda a leveza da tinta da incerteza. Admirando o rei tempo e sua longevidade, tão distante aos olhos da nossa verdade, que acabamos por pensar que somos os exilados da aclamada corte. Brindando aos fracassos, exterminando qualquer traço de aconchego. Gostamos é do ócio! Da ira! Do sentimento em sua forma mais incômoda e genuína. Da beleza do azul, do gosto do cru, das expressões mais borradas, das mentes atormentadas. Comporemos um retrato do interior onde nada mais viveu, somente, por pouco tempo, sobreviveu. Transferir os reflexos, dentre esboços e gritos no vazio. Expor o caos permanente. Por fim, carregar o destino que agradava anteriormente. Enfim, apreciando. Mergulhando. Afogando. Retornando. E a tela continua em branco.